Museus e galerias de arte em Berlim – um panorama em transformação

Gerhard Haase-Hindenberg

 

 

Sumário

Durante os anos de divisão da Alemanha, muitas instalações municipais na “Cidade Dividida” de Berlim se apresentavam duplicadas. É por isso que, por exemplo, a Berlim reunificada possui dois zoológicos e dois planetários. Muitas instituições educacionais também surgiram aos pares – muito menos as escolas de arte estão fora deste padrão. A razão pela qual muitos dos outrora tradicionais museus de Berlim apresentam suas obras clássicas em construções distantes umas das outras remonta aos ataques aéreos na cidade durante a Segunda Guerra Mundial. Para sua segurança, fotos, esculturas e coleções de moedas eram dispostas em caixotes e armazenadas em porões e bunkers (abrigos anti-aéreos) espalhados por Berlim. Assim, era puramente uma questão de acaso em qual parte da cidade estas seriam encontradas após os Aliados dividirem a mesma em quatro setores de ocupação em 1945. No setor de museus de Berlim, a reunificação em 1990 também levou as coleções a serem novamente reunidas e à sua redefinição.

O panorama das galerias de arte de Berlim tinha passado por um desenvolvimento um tanto quanto diferente nos últimos anos. Dificilmente quaisquer das galerias tradicionais da cidade dos anos 20 sobreviveram à severa política artística dos Nazistas. Assim, durante os anos da divisão de Berlim, um cenário inteiramente novo se desenvolveu na Berlim Ocidental, encabeçado por uma nova geração de proprietários de galerias de vanguarda. Na Berlim Oriental, o mercado de arte, para o qual era ditado o que fazer pela doctrinaire art diktat (ordem de arte doutrinária), foi dirigido quase somente pela organização “Comércio de Arte do Estado”. Portanto, não é surpreendente que nesta área em particular um panorama de galerias e artístico inovativos e experimentais se desenvolvessem ali após a unificação alemã. Mas o futuro do mercado da arte de Berlim ocupa de forma muito evidente uma pequena faixa próximo ao antigo Checkpoint Charlie (posto de controle), na rua que foi uma vez dividida em duas pelo Muro de Berlim.

 

 

Uma escolha diversificada de museus

Ao invés de dizer porque existe um certo museu em Berlim, seria mais fácil perguntar porque tal museu não existe. A lista provavelmente seria mais curta. Pelo menos é o que parece quando se tem uma visão geral dos muitos museus berlinenses. Além dos museus tradicionais, existe o Museu do Açúcar, Museu Gay, Museu do Cachorro, Museu do Ursinho de Pelúcia, Museu do Plágio, Museu dos Maçons, Museu para o Cegos, Museu da Abelha, Museu da Lavanderia – e a lista não pára.

 

 

Museus de Patrimônio Distritais

A razão pela qual existem museus de patrimônio em quase todos os distritos (bairros) de Berlim remonta à história muito peculiar da cidade. Não foi antes de 1920 que sete cidades, 59 comunidades rurais e 27 distritos estaduais foram integrados para formar os distritos da comunidade da cidade de Berlim. Assim, os museus de patrimônios locais mostram o caráter da vila original (Dorf) de muitos distritos cujos nomes tais como Wilmersdorf, Zehlendorf e Reinickendorf prestam testemunho de suas origens. Muitos destes museus foram novamente instalados em 1990, como conseqüência da unificação alemã. O museu de patrimônio local em Köpenick (na antiga Berlim Oriental), fundado em 1929, está instalado desde 1991 em uma casa construída em 1665 e exibe principalmente obras abrangendo a história de Köpenick como uma vila de pescadores. O museu de patrimônio local em Kreuzberg é um museu de desenvolvimento urbano e história social, que foi estabelecido em 1978 e desde 1990 tem abrigado uma exposição permanente sobre o comércio da impressão. A Zitadelle Spandau é um castelo medieval de espessas muralhas construído sobre as fundações de uma fortaleza do século 12. Sendo um modelo de complexo agrícola, a Domäne Dahlem é um museu ao ar livre dentro da cidade.

 

 

Museus tradicionais imutáveis

Os museus tradicionais de Berlim tem permanecido em sua grande parte sem alterações, exibindo as mesmas coleções, nos mesmos locais. O Brücke Museum, na fronteira da floresta Grunewald, expressa uma idéia do pintor e artista gráfico Expressionista Karl Schmidt-Rottluff (1884-1976), que queria dar uma "casa" ao grupo de artistas Brücke (ponte), do qual ele foi co-fundador em Dresden, em 1905. Ele doou 78 de suas pinturas à cidade, propiciando uma base para o museu. Construído em 1967, o museu também abriga 400 pinturas e coleções de gráficos dos artistas "Brücke" Ernst Ludwig Kirchner, August Macke, Erich Heckel, Emil Nolde e Max Pechstein.

Brücke Museum

 

Kolbe Museum

O Kolbe Museum é o único estúdio e casa de um artista que está aberto ao público como um museu em Berlim. O escultor Georg Kolbe (1877-1947) o construiu em 1928/29 e este tem sido um museu desde 1950. Em 1998 o apartamento no bairro onde morava também foi aberto ao público após feias conversões terem sido removidas e a aparência original dos ambientes, incluindo seu padrão de cores, ter sido reconstituída. Além de esculturas de nus idealizados feitos por Kolbe, o museu também exibe principalmente esculturas do início do século 20.

 

 

Novos museus dos dias da "Cidade Dividida"

Os museus que surgiram em ambos os lados durante as décadas da divisão de Berlim foram freqüentemente influenciados por temas sobre a Guerra Fria. Na Berlim Oriental, eram incluídas exibições tais como a "Feitos do Glorioso Exército Soviético" e a "História do Movimento de Trabalhadores Alemães". Na Berlim Ocidental, o museu logo ao lado do Checkpoint Charlie (posto de controle) expunha a desumanidade do regime de fronteira da Alemanha Oriental. Estes museus tinham como intuito a propaganda e acabaram perdendo o sentido com o fim da Guerra Fria, necessitando de uma redefinição.

A construção que abriga o Museu Russo-Alemão Berlin-Karlshorst se trata do local onde, em 8 de maio de 1945, os comandantes militares alemães assinaram a rendição final da Alemanha Nazista, encerrando formalmente a Segunda Guerra Mundial na Europa. Em 1967, sob supervisão soviética, um museu militar foi ali instalado com o nome oficial "Museu da Rendição Incondicional da Alemanha Fascista na Grande Guerra Patriótica de 1941-1945". Quando em 1990, concordou-se com a retirada das tropas soviética da Alemanha Oriental, os lados russo e alemão organizaram um plano para que ambas homenageassem a rendição e a ocupação de Berlim. O museu completamente reconstruído foi aberto em 8 de maio de 1995, com o 50o aniversário da rendição.

Museu Russo-Alemão
Berlin-Karlshorst

O Museu dos Aliados está em Zehlendorf, no antigo setor americano de Berlim. O complexo inclui o Outpost Theater (Teatro do Posto Avançado) e a Biblioteca Memorial Arthur D. Nicholson. Em seu patrimônio estão incluídos documentos e objetos históricos tais como armas, equipamentos técnicos, documentação sonora e grandes equipamentos militares, incluindo uma aeronave. Seu objetivo é relatar a história da ocupação dos Aliados em seus respectivos setores no oeste da cidade, de 1945 até sua partida de Berlim em 1994. Os outros temas do museu incluem o papel desempenhado pela estação de rádio RIAS (Radio in the American Sector) - Rádio no Setor Americano - e a função de sua propaganda direcionada a ambos Oeste e Leste, e uma réplica de um túnel mostrando como este foi utilizado para escapar da Berlim Oriental.

O Gedenkstätte (local de memorial) e o Dokumentationszentrum Berliner Mauer (Centro de Documentação do Muro de Berlim) celebram a divisão da cidade de 13 de agosto de 1961 a 9 de novembro de 1989. Havia uma estrutura com a função de memorial na Bernauer Strasse (Rua Bernauer) antes mesmo da unificação. Após a união alemã, uma comissão de investigação do Parlamento Federal concordou que o local deveria ser suplementado com uma documentação bem embasada academicamente. O Centro de Documentação, aberto no 10o aniversário da queda do Muro de Berlim, oferece via terminais de computadores, informação objetiva sobre o Muro em forma de fotografias, textos, filmes e documentos sonoros, bem como pontos de audição onde os visitantes podem ouvir transmissões originais de estações de rádio da Berlim Ocidental e da Oriental.

Mas nem todos os museus berlinenses que surgiram durante a Guerra Fria tinham um cunho de propaganda política. Um dos museus "apolíticos" é o Museum der Dinge (Museu das Coisas) do Arquivo Werkbund, que atualmente é ainda alojado no Martin Gropius Bau (prédio), embora um novo local esteja sendo procurado para o mesmo. O Arquivo Werkbund - fundado em 1973 como uma associação sem fins lucrativos - pesquisa e documenta a história da Deutsche Werkbund, que foi fundada em 1907, e a cultura cotidiana do século 20. A Deutsche Werkbund se tratava de uma associação de artistas que pretendiam aperfeiçoar a qualidade das artes e obras e que, em 1929, também fundaram a escola "Bauhaus" de arquitetura e artes aplicadas em Weimar. O Museum der Dinge se vê como um laboratório para um novo conceito de museus de história cultural. Os curadores das diferentes exibições buscam - freqüentemente de uma maneira surpreendente e divertida - "decodificar as mensagens encapsuladas nas coisas das gerações há muito passadas". Eles cruzam as fronteiras entre ciência, arte e vida cotidiana. Entre as 200.000 obras que o Arquivo Werkbund tem colecionado até então, há objetos da cultura da Alemanha Oriental e itens que os soldados russos deixaram para trás quando partiram da Alemanha. Entre eles, antenas de rádio e TV feitas de metal sucateado e uma máquina de "pescar prêmios" movida à bateria.

A exceção no mundo dos museus antes dirigidos pelo Estado na antiga RDA (República Democrática da Alemanha), em todos os aspectos, é o museu privado Gründerzeitmuseum Mahlsdorf ["Gründerzeit" ou "Gründejahre" foi o período da expansão industrial alemã de 1871]. O travesti Lothar Berfelde, cujo pseudônimo era Charlotte von Mahlsdorf, falecido em abril de 2002, fundou o museu num prédio em Köpenick  de 200 anos de idade de propriedade do Estado, com sua coleção pessoal de móveis e caixas-de-música do final do século 19. Em 1959 "Charlotte von Mahlsdorf" foi capaz de assumir o controle do prédio sem a necessidade de pagar aluguel e restaurou a propriedade dilapidada por sua própria iniciativa.

Gründerzeitmuseum Mahlsdorf

Seu esforço nunca foi oficialmente reconhecido na RDA, e a existência do museu foi repetidamente ameaçada, em virtude por exemplo das exigências de altos impostos injustificados. Não foi antes de 1990 que "Charlotte von Mahlsdorf" foi finalmente capaz de adquirir a construção, e em 1997 o Estado de Berlim comprou a coleção.

 

 

Paisagem de museus modificada após a reunificação

Após 1990, a reunificação das duas "Berlins" fez com que a paisagem de museus se alterasse. Plantas de renovação ficaram repentinamente obsoletas e tinham que ser modificadas, o que pertencia originalmente a um lugar foi trazido de volta ao mesmo, e novas tarefas surgiram. A maioria das alterações já feitas e ainda planejadas são conseqüência da Segunda Guerra Mundial. Quando os ataques aéreos aliados na capital alemã começaram, as coleções foram empacotadas em caixotes e armazenadas em locais espalhados por toda a cidade. Após o fim da guerra e a divisão política de Berlim em três setores no oeste e o setor soviético, era uma questão de acaso aonde uma das várias obras fossem encontradas.

A partir de então os museus da Berlim Oriental e da Berlim Ocidental se desenvolveram separadamente. No Leste elas foram agrupadas na Museumsinsel (Ilha dos Museus), um complexo fundado em 1830. No Oeste, elas foram concentradas no novo distrito de Dahlem, fora do centro da cidade. A divisão afetou em particular as coleções de antiguidades, esculturas, pinturas e obras de arte que antes estavam agrupados na Museumsinsel. Após a queda do Muro de Berlim, as coleções separadas começaram a ser novamente reagrupadas - principal tarefa que ainda está em progresso.

Após discussões acaloradas, as autoridades da cidade concordaram na reconstrução principal da Museumsinsel. Os museus construídos numa ilha no rio Spree formam um dos maiores complexos de museus do mundo. A Nationalgalerie, atualmente Alte (Antiga) Nationalgalerie, possui uma coleção de pinturas e esculturas do século 19, provenientes de doações particulares.

Alte Nationalgalerie
Pergamon Museum

O Pergamon Museum, aberto em 1930, abriga muitas antiguidades bem como o Deutsches Museum com coleções de esculturas do norte dos Alpes. O Bode Museum exibe esculturas, pinturas e obras de arte do sul da Europa, Holanda e Bélgica.

O Neue Museum, ao lado do Pergamon, adquiriu em 1950 uma Coleção Etnográfica, que - de forma expandida - tem estado no Museu Etnológico em Berlin-Dahlem desde 1999. O Neue Museum renovado incluirá a partir de 2009 a Coleção Egípcia reagrupada com o famoso busto da rainha Nefertiti, que desde o fim da guerra tem sido exibido no Oeste da cidade num antigo abrigo de coches, no palácio Schloss Charlottenburg.

Neue Museum

A Alte Nationalgalerie, aberta em 1876 como um museu de arte contemporânea, inclui obras de Caspar David Friedrich, Nazarene Peter Cornelius, Wilhelm Leibl e Adolph Menzels. A galeria foi completamente renovada e parcialmente reconstruída, sendo reaberta em dezembro de 2001. Desde então ambas obras e construção planejadas pelo pupilo de Schinkel, Friedrich August Stüler, tem sido igualmente populares em atrair multidões. A Galerie der Romantik, que também era abrigada no Schloss Charlottenburg após a guerra, foi reintegrada à coleção.

Altes Museum

O Pergamom Museum, com cerca de 850.000 visitantes por ano, tem uma das coleções de antiguidades de vanguarda em todo o mundo. Também abriga o museu da Ásia Ocidental, com sua coleção de arte islâmica. Os grandes monumentos arquitetônicos do museu, tais como o imponente altar da antiga cidade-estado de Pergamum e o portão do mercado romano de Miletus, foram guardados nos porões do Pergamon durante a guerra e, assim, permaneceram na parte oeste da cidade. 

Mas as obras de arte foram guardadas em outro lugar, também permanecendo no lado oeste, sendo exibidas no palácio Charlottenburg. Após a unificação alemã, elas foram transferidas para o Altes Museum, aonde podem ser apreciadas esculturas, vasos e jóias gregas e romanas. A configuração final do museu também incluirá a arte etrusca.

 

O Bode Museum ainda está sendo renovado. A abertura de sua coleção de esculturas, que após a reunificação foi integrada com o Museu de Arte Bizantina, está planejada para 2006. Visitantes poderão então admirar obras esplêndidas tais como os mosaicos de Ravenna, figuras góticas de várias regiões da Alemanha, esculturas do renascentismo italiano tais como as de Donatello e Luca della Robbia, e esculturas do barroco alemão. Algumas delas serão exibidas juntamente com pinturas e obras de arte contemporâneas. O prédio também irá abrigar uma coleção de moedas e um museu das crianças.

Bode Museum

O Reichpostmuseum (Museu do Serviço Postal Imperial) de Berlim, aberto em 1898, é considerado um dos mais antigos museus postais do mundo. Durante a Segunda Guerra Mundial, suas peças histórias foram tranferidas para Hesse, no oeste da Alemanha, aonde eles formaram as bases para o Museu Postal de Frankfurt am Main. Na Berlim dividida pós-guerra, um Museu Postal foi fundado na Berlim Oriental em 1958 e outro na Berlim Ocidental em 1966. Após a reunificação, os dois museus foram associados, e em 2000 reabertos no prédio histórico original com o nome de Museu da Comunicação.

 

 

Novos museus na Berlim reunificada

Apesar dos grandes problemas financeiros de Berlim devido aos custos da reunificação da cidade e os custos relacionados à mudança do Governo Federal de Bonn para Berlim em 1999, muitos novos museus, alguns deles em mãos privadas, surgiram na "nova Berlim".

Film Museum

O Film Museum, no Sony Centre localizado na Potsdamer Platz, é um dos recém-chegados, que surgiu a partir da Deutsche Kinemathek fundada em 1963. Desde a abertura do Film Museum em 2000, visitantes podem usufruir de uma exibição permanente sobre a história dos filmes desde 1919.

O que foi uma vez a Hamburger Bahnhof (estação de trem) de Berlim, construída entre 1846-47, abriga o Museu do Transporte e Construção desde 1906. Em conseqüência dos danos causados pela Segunda Guerra Mundial, não foi antes de 1987 que foi possível utilizar o local para exibições. Em novembro de 1996, após os trabalhos de modificação assinados por Kleihues, o local se tornou o Museu de Arte Contemporânea dos museus do Estado e lar da coleção particular de Marx, com obras de Andy Warhol, Anselm Kiefer, Cy Twombly, Josef Beuys, entre outros. 

Adicionalmente, o Guggenheim Museum tem se envolvido ativamente numa parceira em joint venture com a sede do Deutsche Bank de Berlim, próximo ao Portão de Brandemburgo.

Guggenheim
Museum

O Museu da História Alemã está localizado na Zeughaus (arsenal) na avenida Unter den Linden, próximo ao Museumsinsel. A construção possui uma história agitada. No início do século 18, abrigou um dos maiores arsenais da Prússia e se tornou então um museu do exército durante o reinado do rei Friedrich Wilhelm III (1797-1840). Após a vitória da Prússia sobre a França em 1871, a construção foi uma Sala da Fama, homenageando os monarcas prussianos. A maioria de seus objetos foram destruídos após a Segunda Guerra Mundial, sob as ordens dos militares soviéticos, ou então foram perdidos. O Museu da História Alemã foi fundado no mesmo prédio, reconstruído em 1952, com o intuito de transferir a visão do regime do leste alemão sobre a história Marxista-Leninista. O museu foi fechado em setembro de 1990, até mesmo antes da dissolução da RDA.

Um segundo "Museu da História Alemã" foi fundado na Berlim Ocidental em 1987 para marcar o 750o aniversário da cidade, apesar de ter apenas um espaço provisório limitado. Um novo prédio projetado pelo arquiteto Aldo Rossi foi planejado para ser construído próximo ao Reichstag, o antigo prédio do Parlamento, mas a unificação colocou o plano em dúvida. Com a unificação alemã, no dia 3 de outubro de 1990, o Governo Federal transferiu as coleções e bens para o antigo Museu da História Alemã. Uma exibição permanente com "imagens e testemunhos da história alemã" cobre a história da Alemanha desde a Idade Média até o século 20.

Museu Judeu

A idéia de fundar um Museu Judeu, objetivando retratar a grande comunidade judia que existia em Berlim antes da guerra, ressurgiu em 1971. Em 1988 Berlim lançou uma competição arquitetônica para uma extensão do museu da cidade, que foi ganho por Daniel Libeskind em junho de 1989. Até mesmo a construção vazia, concebida como "arquitetura falante", que foi aberta ao público até sua conclusão em 1998, atraiu mais de 200.000 visitantes. Completamente instalado desde setembro de 2001, o museu documenta a história dos Judeus alemães - não apenas aqueles presentes em Berlim - durante os dois últimos milênios.

 

 

Duas ditaduras - dois memoriais

Na nova Berlim, dois museus marcam as duas ditaduras que no século passado tiveram uma influência duradoura no destino da cidade.

O centro de visitação e documentação internacional Topografia do Terror foi estabelecido num pavilhão provisório aonde situava-se o antigo quartel-general da Gestapo nazista. Em razão da resposta altamente positiva dos visitantes alemães e estrangeiros às documentações sobre a história do local, a cidade decidiu criar ali um memorial permanente em 1989. Devido aos trabalhos de construção do novo prédio de exposições, que começaram em 1997, e devido à problemas financeiros, o mesmo ainda não foi concluído. A exibição está sendo apresentada ao ar livre.

A peça central do Stasi Museum, no Memorial e Local de Pesquisa Normannenstrasse, aberto em 1990, é o escritório do chefe da polícia secreta da Alemanha Oriental Erich Mielke, o último Ministro de Segurança do Estado (Stasi) da antiga RDA, que tem sido mantido em suas condições originais. A exposição também cobre diversos aspectos do sistema político da RDA, as atividades da Stasi, a resistência ao regime e a perseguição aos seus opositores.

 

 

Do Velho Oeste ao Leste Selvagem - a nova realidade no panorama de galerias de arte em Berlim

Durante as décadas da divisão de Berlim, os panoramas artísticos no Leste e Oeste da cidade se desenvolveram separadamente. Uma das razões para tanto é certamente o regime comunista de Berlim Oriental ter tido uma visão ideológica rígida da arte que, por um longo período, foi orientada pelo inflexível dogma do "realismo socialista". Em contraste, desenvolveu-se na Berlim Ocidental um avant-garde notável internacionalmente.

As obras de artistas do leste alemão eram mostradas na Berlim Ocidental de tempos em tempos, e com a partida da RDA de alguns artistas de Berlim Oriental no começo dos anos 80, estes também atraíram atenção no Oeste. Contrariamente, as obras de artistas de Berlim Ocidental, com exceção de poucos exemplos dificilmente dignos de menção, eram praticamente nunca exibidas na Berlim Oriental.

Os mercados de arte das "Berlins" Oriental e Ocidental também se desenvolveram totalmente isolados um do outro durante as décadas de divisão. No Leste, o comércio de arte na RDA era quase sem exceção reservado para a organização de comércio de arte controlada pelo Estado. No Oeste, desenvolveu-se um panorama de galerias livres que eram, e ainda são, ligadas aos proprietários das galerias de vanguarda. Estas últimas, de próprio acordo, promoveram artistas e contribuíram com as tendências artísticas. Uma exceção digna de nota foi uma galeria que cruzou fronteiras, cujo proprietário era Gunnar Barthl. Ele deixou a RDA em 1987 e, desde então, vendeu apenas obras de arte pós-guerra da Berlim Oriental em sua Galeria Barthel & Tetzner.

Desde a reunificação da cidade, o panorama de galerias da Berlim Ocidental tem parecido ser um tanto conservador (nem sempre dessa forma), enquanto no lado oriental tem-se visto como inovador e avant-garde (quase sempre dessa forma). Esta é uma imagem que já persuadiu algumas galerias tradicionais da Berlim Ocidental em "go East" (ir para o Leste), ou pelo menos as fez pensar a respeito de instalar uma "filial oriental".

 

 

Tradição da Berlim "Ocidental"

A Galeria Pels-Leusden estava localizada na Berlim Ocidental na rua Kurfürstendamm por quase 50 anos antes de se mudar para uma esquina próxima, em 1986. Desde então, o imponente palacete da cidade projetado pelo arquiteto Hans Grisebach, localizado na rua Fasanenstrasse e concluído em 1892, tem sido o local adequado para expor os tesouros do Modernismo Clássico Alemão. Arte pós-guerra de qualidade está dependurada por toda a parte, incluindo obras de Corinth, Zille, Beckmann e Dix. Muitas outras galerias no estilo da antiga Berlim Ocidental são igualmente exclusivas. A galeria Wolfgang Werner, logo à frente, também apresenta um espaço relativamente pequeno, e entre papéis-de-parede de tecido prateado e carpetes cinza-metálico distingue a arte desde László Moholy-Nagy até Antonio Tàpies.

Bem versada no comércio de todos os destaques da arte moderna figurativa, tais como obras de Max Ernst, é sem dúvida a Galeria Brusberg, que desde 1982 tem sido entronizada logo acima da rua Kurfürstendamm em um esplêndido andar de um prédio antigo. Também numa atmosfera aconchegante, no primeiro andar de uma antiga construção, a Galeria Brockstedt apresenta a arte alemã da primeira metade do século 20, entre antiguidades relacionadas. A Galeria Stolz, que exibe a arte moderna de geometria clássica, é especializada em construtivismo e no avant-garde russo. Florian Karsch é proprietário da Galeria Nierendorf, aberta em 1955, que é a galeria particular mais antiga de Berlim, oferecendo valiosas obras Expressionistas. Na porta ao lado, a Galeria Haas und Fuchs vende obras de artistas estabelecidos, desde James Ensor até Joan Miró. Paralelamente, Michael Haas foca em artistas contemporâneos menos conhecidos.

Próximo à Kurfürstendamm, atrás das altas janelas da Galeria Springer & Winckler, é onde Rudolf Springer - uma figura-chave no panorama da arte pós-guerra na Berlim Ocidental - costumava gerir seus negócios. Atualmente, seu filho Robert e Gerald Winckler, entre outros, oferecem obras de Dieter Appelt e Georg Baselitz, entre outros artistas. Um legendário "pai da arte" há pouco falecido está também por trás de Fine Art Rafael Vostell, embora ele não tenha sido um proprietário de galeria mas de fato um artista. Nos anos 60, Wolf Vostell, falecido em 1998, criou com "acontecimentos" e vídeos uma ligação revolucionária entre arte e vida. Sua marca registrada foi um Cadillac de cimento que ele "estacionou" na central de reservas da Kufürstendamm durante um evento intitulado "Boulevard de Esculturas", em 1987. Sua galeria, que representa nomes como Yoko Ono e Nam June Paik no movimento de vanguarda chamado Movimento Fluxus, planejou se mudar para a parte leste da cidade em setembro de 2002.

A tão citada "tradição de Berlim Ocidental" se relaciona dessa forma mais com a continuidade do panorama artístico do que com seu conteúdo, que em sua diversidade e mutabilidade pode certamente se sair melhor em comparação com outras capitais. A Galeria Anselm Dreher tem também mostrado ocasionalmente, desde 1967, os desenhos do autor Günter Grass ao lado da arte difícil de vender denominada Conceitual ou de Idéia, indo de Lawrence Weiner até John M. Armleder. A Galeria Thomas Schulte comercializa notavelmente a arte Conceitual dos EUA, e também cria ligações locais com as obras de artistas contemporâneos berlinenses.

A Galeria Fahnemann promoveu nos anos 80 um jovem escultor revolucionário, Hermann Pitz, e publica os campos formalistas de cor de Günther Förg e Imi Knoebel na forma de edições. A Galeria Eva Poll participa ativamente no comércio de arte de Berlim Ocidental desde 1968. Paralelamente às suas salas no Oeste, onde mostra pinturas e esculturas figurativas, a Fundação de Arte Poll, no distrito de Berlim Oriental de Mitte, tem desde 1998 focado somente na fotografia.

Quem quer que tenha feito negócios com os "Young Wild Ones" ("Os Jovens Selvagens") em Berlim nos anos 80, tem quase sempre permanecido jovem e selvagem. A Galeria Tammen & Busch ainda representa estes pintores, mas também conta com grandes esculturas de Trak Wendisch e Pit Kroke. A Galeria Raab, que abriu próximo à Nova Galeria Nacional em 1979, logo se tornou um endereço de vanguarda para as pinturas artísticas de Berlim, e continua a viver daqueles dias dourados. Igualmente, a Galeria Michael Schultz mantém as expressivas pinceladas de Markus Lüppertz, A. R. Penck e K. H. Hödicke, que uma vez causou uma grande agitação.

 

 

Inovação na Berlim "Oriental"

No século 19 e início do século 20, o Scheunenviertel (bairro do celeiro) foi o "quintal" de Berlim para os trabalhadores pobres e imigrantes judeus. Este permaneceu um desorganizado idílio de cidade grande até o fim da RDA. Após a queda do Muro de Berlim um cenário bastante vívido surgiu, como uma fênix das cinzas, entre o Mercado Hackesche, escurecido pela fuligem, e as ruínas do centro cultural Tacheles. Primeiro os artistas e então os proprietários de galerias se estabeleceram por si próprios em suas construções baratas e insalubres. Hoje em dia, a área ao redor da rua Auguststrasse é o "lugar para ser", até mesmo para grandes nomes de Nova Iorque.

Friedrich Loock aproveitou ao máximo esses tempos, alugou um espaço para lojas e fundou a Galeria Wohnmaschine (máquina de alojamento), assim nomeada segundo o conceito arquitetônico de Le Corbusier. Ele é ainda leal aos seus artistas regulares dos dias de RDA, e atualmente apresenta no lado oposto da rua vídeo-retratos de York der Knöfel e a pintura colorida de Anton Henning.

Não menos legendário entre os negociantes de arte de Berlim é Gerd Harry Lübke. Sua Galeria EIGEN+ART, aberta em 1992, está repleta durante as "rondas", lançadas por ele. Desde 1994, até 1.000 fregueses dos seus cenários fizeram um tour de casa em casa em tardes de sábado selecionadas, com vinho tinto de graça e garrafa de cerveja de cortesia. Não foi somente o estranho nome da galeria que se tornou marca registrada. "Judy" Lübke também sabe bem como agir pessoalmente como o manipulador de marionetes do ramo da arte no Novo Mitte. Ele conseguiu enviar cinco artistas de sua própria "casa de artistas" para a documenta de 1997, em Kassel.

Como construções velhas e dilapidadas poderiam se tornar convenientes para o cenário artístico foi mostrado por proprietários de jovens galerias promissoras tais como Tim Neuger e Burkhard Riemschneider, que vieram da Berlim Ocidental. Sua neugerriemschneider Gallery deu à uma antiga fábrica a consagração da arte jovem. Quando em 1996 a Galeria Mehdi Chouakri abriu, a artista Sylvie Fleury colocou bolsas de compras Chanel nas salas clinicamente renovadas e escreveu sobre as mesmas um slogan de uma indústria de cosméticos. Esta ligação entre art, design e moda caracteriza o programa de Chouakri.

No Hackesche Höfe (pátio), um complexo composto de uma antiga fábrica e prédios de depósito, as renovações e o turismo dificilmente permitiriam a oportunidade para o desenvolvimento artístico que marcou o cenário do Mitte no início dos anos 90. Apenas a Museumsakademie Berlin de Helen Adkins, que é dirigida como uma galeria e localizada num espaçoso andar do que foi uma fábrica erguida em um pátio lateral, preserva o charme do "provisório". Matthias Arndt, que no início dos anos 90 foi o primeiro a expor arte no Hackesche Höfe, quando este ainda estava coberto pelos andaimes de construção. Agora ele utiliza apenas uma pequena construção convertida, aonde ficava o transformador elétrico em um dos pátios de suas exibições.

Seguindo sua transferência de Berlim Ocidental para o Mitte, a Galeria Bodo Niemann focou mais a fotografia contemporânea, mas em seu projeto secundário "foto-perfeita", continua a se preocupar com os veteranos, tais como o fotógrafo de moda Erwin Blumenfeld. A Galeria Berinson e Kicken Berlin, que se concentram em fotografias históricas, completam as ofertas fotográficas no panorama do distrito de Mitte.

 

 

O futuro no que um dia foi a terra de ninguém

O futuro do comércio de arte de Berlim se situa diretamente próximo ao antigo Checkpoint Charlie (posto de controle), o ponto de passagem dos aliados de Leste para Oeste. Um complexo de negócios na rua Zimmerstrasse, aonde o Muro de Berlim corria entre os distritos de Mitte e Kreuzberg, está dando espaço para proprietários de galerias ambiciosos. As fachadas das seqüências de prédios ainda possuem brechas entre elas, assim como dentes-de-leite. Mas o comércio de arte é o primeiro setor de negócios a dar uma idéia do potencial do que era uma típica terra de ninguém em Berlim.

O escultor Peter Unsicker abriu sua Galleria Wall Street ali, diretamente próximo ao Muro em 1986, e atraiu a atenção para si com ações artísticas espetaculares que ele descreveu como exercícios no paradoxo da "beleza do medo". Em sua galeria de produtores estão agrupados objetos e esculturas que ele diz ter "selecionado das estórias dos tempos".

Na metade dos anos 90, o proprietário de galeria Max Hetzel se mudou de Colônia para Berlim e provocou seus colegas locais com uma cara arte contemporânea indo de Jeff Koons a Gerhard Merz, que seria boa o bastante para um museu. E após 15 anos de Berlim Ocidental, Volker Diehl e sua sócia Rilana Vorderwuehlbeck abriram uma galeria em uma construção no mesmo pátio comercial. As figuras nas paredes da Galeria Diehl Vorderwuehlbeck são tão arrojadas quanto seu chão cinza de plástico escorrido. Diehl é o co-fundador da feira de negócios ART FORUM BERLIN, que foca a arte contemporânea e, desde 1996, tem desafiado a Feira de Arte de Colônia. Em seu quinto ano, este festival de seis dias no outono da arte mundial atraiu quase 21.000 visitantes, estabelecendo um novo recorde. Na construção da entrada do complexo, a Galeria Nordenhake oferece obras contemporâneas de elevado valor. Claes Nordenhake, no ramo da arte desde 1973, está baseado em Estocolmo e tem uma filial em Berlim desde outubro de 2000.

Após 8 anos oferecendo um programa para o mercado internacional no distrito de classe média de Berlim Ocidental Schöneberg, a Galeria Barbara Weiss também se mudou em 2002 para a área promissora da fronteira do antigo Muro de Berlim. Seus artistas regulares incluem a extrema Conceitualista Maria Eichhorn e o artista de vídeo Heike Baranowski. Com mais recém-chegados, o bairro estará logo no caminho de abrir um novo cenário no dividido negócio de galerias de arte de Berlim. Nada de construções antigas na clássica Berlim Ocidental, nada de experimentos do tipo Mitte com instalações em pátios, mas sim um panorama de um mercado internacional contemporâneo nos andares das antigas fábricas.

 

 

O Avant-Garde foi um movimento de renovação cinematográfica que se desenvolveu entre 1921 e 1931, principalmente na França e Alemanha. O movimento se valeu das experiências abstratas do Dadaísmo e Surrealismo, como referência para dar forma ao que já estava sendo imprimido nas telas.
A preocupação renovadora da Avant-Garde foi a busca predominantemente formal das artes e o cinema foi mais um meio de demonstrar aquilo que os artistas plásticos desenvolviam à algum tempo. O caminho ao experimentalismo fora aberto pelos cineastas, que, após a I Guerra, procuravam novo estilo e poesia na pintura impressionista.

 

 

Endereços na Internet

Coleções Estaduais Berlinenses - Fundação de Propriedades Culturais Prussianas: www.smb.museum

Museu dos Aliados: www.alliiertenmuseum.de

Museu da História Alemã: www.dhm.de

Georg Kolbe Museum: www.georg-kolbe-museum.de

Museu do Filme: www.deutsche-kinemathek.de/

Memorial do Muro de Berlim: berliner-mauer-gedenkstaette.de

Museu Judeu: www.jmberlin.de

Museu Russo-Alemão Karlshorst: www.museum-karlshorst.de

Museu das Coisas: www.museumderdinge.de

Museu da Cidade de Berlim: www.stadtmuseum.de

www.webmuseen.de

www.berliner-galerien.de

 

 

Outras Leituras

Reclams Kunstführer Berlin (Guia de Arte). Reclam, Ditzingen

Neue Nationalgalerie Berlin. Prestel, Munique (1998)

Nationalgalerie Berlin. Das 19. Jahrhundert. E. A. Seemann, Leipzig (Dezembro 2001)

Alte Nationalgalerie Berlin. Prestel, Munique (Novembro 2001)

Die Antikensammlung. Staatliche Museen zu Berlin. Altes Museum - Pergamonmuseum. Brigitte Knittlmayer e Wolf-Dieter Heilmeyer (Editores). v. Zabern, Mainz (Julho 1998)

Gemäldegalerie Berlin. Prestel, Munique (Maio 2001)

Corpus speculorum Etruscorum, Bundesrepublik Deutschland, em 4 vols., Vol 4, Staatliche Museen zu Berlin, Antikensammlung. Josef Riederer, entre outros. Hirmer, Munique (Setembro 1998)

Daniel Libeskind. Jüdisches Museum Berlin. Elke Dorner. Gebr. Mann, Berlim (Abril 1999)

Museum für Islamische Kunst. Staatliche Museen zu Berlin Preußischer Kulturbesitz. Volkmar Enderlein, entre outros. v. Zabern, Mainz (Maio 2001)

Brücke Museum Berlin. Magdalena M. Moeller. Prestel, Munique (Janeiro 1996)

Kunstgewerbemuseum Berlin. Barbara Mundt e Lothar Lambacher. Prestel, Munique (Janeiro 1998)

Botanisches Museum Berlin. Adolf Engler - Die Welt in einem Garten. Birgit Mory, entre outros. Prestel, Munique (Abril 2000)

Museum für Ostasiatische Kunst Berlin. Helmut Friedel. Prestel, Munique (2001)

Museum für Indische Kunst Berlin. Helmut Friedel. Prestel, Munique (2001)

Das Vorderasiatische Museum Berlin. v. Zabern, Mainz (Abril 1992)