História de nosso relacionamento
O começo
Bem, eu, Graziella, vou começar contando como tudo começou. Sem dúvida tudo será analisado do meu ponto de vista e é por isso que comentários adicionais ou contrários serão feitos pelo Thomas e devidamente destacados.
Tudo começou em 1998 quando meu amigo Ronaldo, já conhecedor do ICQ, insistia para que eu conhecesse esse programa. Eu perguntava para que tal programa servia, e ele me dizia que era muito bom para poder conversar entre nossos amigos ao mesmo tempo num chat. Daí eu me desinteressava e dizia que isso era muito tedioso e sem graça, pois se tivéssemos que conversar com nossos amigos, que fosse pessoalmente ou por telefone. O tempo passou até que um dia decidi aceitar a proposta do Ronaldo e experimentar o programa. No início conversávamos entre nós. Até que um dia apareceu uma mensagem de uma americana. Fiquei muito assustada. O que seria isso? Perguntei então para ela como havia me descoberto, mas estava tão surpresa e curiosa que acho que acabei a deixando mais espantada do que eu mesma.J Esse foi então o início de uma das fases da minha vida: a do ICQ. Minha curiosidade despertada levou à descobrir como essa americana tinha me achado e a partir daí meu vício em chats começou. Para mim era muito divertido pois era uma maneira de treinar meu inglês e também de conhecer outras culturas, além de me distrair. Eu chegava a conversar com 5 pessoas ao mesmo tempo! Realmente me viciei! O mais interessante e ao mesmo tempo irônico é lembrar meu primeiro contato com a Internet. Havia contratado um provedor, criado meu primeiro e-mail, e praticamente não o usava. Naquela época a tarifação era por minuto de conexão, ou seja, caríssima. Cheguei a ficar um ano checando e-mails quando muito mensalmente. Navegar pela Internet? Para mim esse verbo pertencia ao dicionário dos marinheiros. J O desinteresse de antes se transformou no vício de amanhã.
E foi então num desses dias em que eu estava caçando pessoas pelo random do ICQ que eu acabei conhecendo o Thomas. Como eu perdi meus dados do ICQ mais tarde, nunca consegui saber qual foi esta data. Mas como o Thomas é um homem de muito boa memória para datas, bem diferente de muitos homens e de mim também, ele acredita que seja dia 10 de novembro de 1998. Bem, eu acredito nele! J
Nessa época o Thomas estava passando por uma fase difícil na vida dele com um amor não correspondido e pra você ver como são as coisas, fiquei meio entediada disso e cheguei até a deletar ele da minha lista. Mas como a vida é engraçada! Após uma crise amorosa que passei, o Thomas acabou me chamando um dia para conversar e a partir daí não paramos mais.
Quando começamos a sentir que existia um sentimento diferente um pelo outro, a onda de inseguranças e discussões também começou a surgir. Discutíamos muito, e mais tarde, analisando esses momentos que passamos, nós percebemos que tudo isso era medo; medo de sentir algo por alguém que não conhecíamos pessoalmente, medo de nos machucarmos, medo de nutrir um relacionamento que talvez não prosperasse principalmente pela distância. Mas, pouco a pouco, conseguimos vencer uma parte desses medos e, no dia 6 de março de 1999, nós aceitamos que estávamos apaixonados um pelo outro.
Foi tudo muito interessante e muito rápido. Ainda assim eu era a mais insegura dos dois. Muito desconfiada de tudo ser uma mentira e de me machucar. O Thomas, sempre otimista, encarava isso de uma forma bem mais natural. Foi aí que comecei a entrar em crise comigo mesma. Tinha muito medo de me decepcionar, especialmente porque sempre me liguei às aparências. Como aquilo para mim não podia continuar como estava, eu senti que precisava vê-lo pessoalmente e resolver todo esse impasse. E foi então que o Ronaldo, que sempre teve o desejo de viajar para a Europa, topou que fossemos viajar para lá em julho. Isso realmente foi uma coisa muito boa que aconteceu. Assim minha angústia e meus medos poderiam terminar de uma vez. Em 9 de julho de 1999, lá estávamos eu e o Ronaldo esperando pelo Thomas numa estação de ônibus em Berlim.
Acho que é muito difícil poder expressar em palavras toda a avalanche de sentimentos e pensamentos dentro mim naquele momento. Vou tentar contar aqui minha impressão geral daquele instante. Como eu e o Ronaldo não sabíamos a plataforma na qual o Thomas iria chegar e como eu estava muito receosa, angustiada e também com medo de me decepcionar, eu pedi ao Ronaldo que sentássemos num banquinho no qual tivéssemos uma vista geral das plataformas e assim visualizar primeiro o Thomas do que o contrário. Vimos assim diversos ônibus chegarem, quando então apareceu um no qual Ronaldo comentou que talvez o Thomas estivesse lá, pois viu uma pessoa com flores na mão. Nossa, que angústia eu estava sentindo quando vi que o momento de enfim nos encontrarmos pessoalmente estava muito próximo! E foi assim que um rapaz de 2 metros de altura, com flores laranjas nas mãos veio em nossa direção. Particularmente, e talvez isso seja muito egoísta e desprezível da minha parte, não gostei muito daquelas flores e fiquei com um pouco de vergonha. Me arrependi muito de ter sentido isso ao pensar nisso mais tarde... E assim nos abraçamos timidamente e prosseguimos andando todos juntos... |
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Ficamos batendo um papo enquanto esperávamos pelo primo do Ronaldo chegar em casa (ele mora em Berlim e gentilmente nos hospedou lá) a fim de que eu pudesse sair um pouco com o Thomas para andar e conversar. Começamos a ficar mais à vontade para conversar e agora posso confessar que enquanto observava o Thomas falando, eu senti algo mais forte por ele, uma vontade de chegar mais perto e até mesmo tocá-lo. Após horas de espera eu e o Thomas saímos, mas cometemos um grande erro pois levamos as chaves do apartamento. Acabamos deixando o Ronaldo trancado em casa pois não podíamos deixar o apartamento destrancado e pensávamos que o primo do Ronaldo não iria demorar muito mais. Putz! Tomei uma "chupada" depois do primo dele! Fiquei meio triste de não ter evitado esse tipo de besteira acontecer. Bem, mas agora vou contar o que aconteceu quando saímos para andar. Nós andamos pela cidade, Berlim é realmente muito bela e charmosa. A primeira pergunta que não queria calar que fiz para ele era se ele estava arrependido. Naquele momento eu tinha certeza de que não estava arrependida e muito menos desapontada, apenas tinha medo de que todo aquele meu receio e comportamento reticente dos meses anteriores pudesse tê-lo contagiado. Mas a resposta foi não e então senti um grande alívio pois sabia que poderia tentar então me aproximar dele. Chegamos então na praça em frente a prefeitura e enquanto andávamos, a minha vontade era de que pudéssemos sentar um pouco em um daqueles banquinhos e conversar olhando um para o outro, frente a frente. Eu sempre fui muito tímida e cheia de receios quanto a tomar iniciativas, mas foi então que na minha cabeça veio a seguinte análise: "Você veio de tão longe só para vê-lo, e agora que você sente que realmente está interessada nele e não está desapontada como pensava, você não vai fazer nada? Não perca tempo! Aproveite cada momento para não se arrepender mais tarde!" E foi isso o que eu fiz. J Tomei coragem e convidei ele para sentar. Fui mais descarada ainda e disse se podia tocar a mão dele. Desde o primeiro momento que vi as mãos dele achei-as tão belas. Acho que a partir daí ele tomou coragem também e pediu para me dar um abraço. Nos abraçamos e não hesitei mais e tasquei um beijo nele! J Foi a decisão mais acertada que tomei na minha vida.... Aquilo que era algo apenas virtual se tornou então real.
Aquele nove de julho ficou sendo a data mais marcante do nosso relacionamento. Jamais vou me esquecer daquele dia. Era uma noite de verão tão agradável. Aquele firmamento límpido, sem estrelas mas de cor contínua e definida. Ainda me lembro do quão reluzente estava o relógio da torre da prefeitura, com aquele brilho entremeado pelas folhas das árvores. E lá estávamos nós no ano seguinte relembrando nosso primeiro encontro. Acabei desenvolvendo uma afeição por aquele lugar, e tenho certeza que cada nova visita será uma emoção nova.
Nossas Crises
A maioria de nossas crises estão relacionadas à distância e, da minha parte, a incerteza de nos estabelecer num futuro próximo bem como a imobilidade momentânea. A falta de uma convivência mais próxima sempre machuca. A insatisfação e até mesmo a revolta contra a situação pela qual somos obrigados a passar sem dúvida dificulta o relacionamento. Só não o destrói pelo amor e convicção em sabermos que um completa o outro e que vamos superar as barreiras. É realmente um teste de paciência, e posso até comparar com algo como uma tortura chinesa. J
Uma
pergunta que me fizeram um dia: A falta de contato corporal por um tempo
bastante significativo face a distância, não faz com que o relacionamento seja
incompleto, abrindo espaço para aventuras? Esta pergunta é a
primeira que todo mundo faz... Acho que varia caso a caso. Tem gente que não
consegue esperar, não tem paciência, enfim, entra num relacionamento desses
mas logo larga porque quer algo mais próximo, mais real. Não consegue suportar
viver assim. Já vi vários casos desse tipo. No meu caso, sem dúvida existe
aquele sentimento de falta de um contato mais próximo, mas como sabemos que
iremos nos encontrar, vivemos intensamente cada momento quando estamos
pessoalmente. Acho que isso faz com que valorizemos mais ainda como é
importante estar próximo. Só um abraço, como faz a diferença. Uma vez
escutei uma menina contando sobre o final de semana dela. Dizia que foi um final
de semana inútil, daqueles que você fica com o namorado em casa assistindo
filme na TV. Parei para pensar e disse para mim mesma: "Você não imagina
o quanto isso poderia significar para mim. Passar um final de semana com meu
namorado em pessoa..." Que coisa... Muita gente tem tudo à sua volta,
mas está insatisfeito. Não sabe valorizar as pequenas coisas da vida que às
vezes podem te fazer tão feliz.
Então é isso, acho que quando se ama e acima de tudo se confia, não há espaço
no seu coração para outras aventuras. Especialmente porque sua mente está
dedicada à outra pessoa, à pessoa que você gosta, com quem você realmente
gostaria de estar junto. Aí, esse tipo de aventura se torna tão pequeno, tão
mesquinho, não traz qualquer prazer...
O surgimento do Site
1999, ano em que eu o Thomas passamos meu primeiro aniversário já como namorados. Neste caso ainda com a grande oportunidade de passá-lo pessoalmente juntos. O Thomas organizava todo misterioso um presente de aniversário. Enquanto eu dormia, ele usava o computador. Mas como nenhum segredo consegue ser mantido a sete chaves por muito tempo, enquanto eu checava meus e-mails, recebi um que era um tanto quanto estranho. Dizia: "Test". Como enquanto estamos juntos pessoalmente nós sempre dividimos o computador e, conseqüentemente, o programa de e-mails, fui perguntar ao Thomas do que poderia se tratar tal e-mail, se talvez fosse dele ou até um vírus. Ele apagou de súbito e ficou todo tristinho, dizendo que eu havia descoberto a surpresa de aniversário. Respondi que continuava na mesma situação de antes, pois eu ainda não sabia o que era. E isso era verdade mesmo.J Mesmo assim ele ficou bastante desapontado. Porém, isso passou logo bem como o tempo, e chegou então o dia do meu aniversário. Foi então que ele me apresentou minha surpresa: a primeira página do domínio graziella.de. Eu adorei e a partir de então comecei a maquinar o que poderia ser feito de melhor com um presente tão especial. Achei que seria uma excelente oportunidade também de aprender a linguagem em voga naquela época, o HTML, bem como outras que pudessem surgir. Ali surgia a Homepage Graziella & Thomas. J
Aprendendo Alemão
Desde que conheci o Thomas pela Internet a afinidade foi tanta que decidi fazer um curso de alemão logo em seguida. Hoje em dia estudo sozinha pois me decepcionei com os cursos de alemão que vivenciei. Ou enrolam até não poder mais, ou seguem estritamente o que está estabelecido no livro. Assim decidi que se era pra seguir um livro, eu poderia fazer sozinha. Fui até criticada quando fiz um teste de avaliação para ingresso numa escola da renome quando disse minha principal razão por ter me interessado pela língua alemã, ou seja, meu namorado alemão. O alemão já veio dizendo que as mulheres não dão ponto sem nó. Minha resposta foi: "Para tudo na vida precisamos de motivação. Jamais pensei na minha vida em estudar alemão, mas estou aqui. E estou me esforçando para isso." As pessoas às vezes tentam se enganar pensando que não são "interesseiras". A palavra "interesseiro", para mim, significa "alguém que tem interesse em alguma coisa", ou seja, passa muito além de qualquer sentido pejorativo. Assim, todo mundo é na verdade interesseiro pois, se não fosse dessa forma, não teríamos metas na vida. Quer seja dinheiro, amor, felicidade, sempre se existe o interesse em obter algo.
Para quem quer aprender alemão, não aconselho ser auto-ditada desde o começo. É de fundamental importância a ajuda dos professores no início do curso. Aprender a pronúncia, as primeiras palavras, entender a formação das sentenças. Claro que tenho dificuldades em estabelecer conversações bem como audição para a língua uma vez que muitas vezes eu sei a palavra mas quando alguém a repete para mim o meu cérebro não consegue estabelecer uma conexão som-palavra. Mas acho que para se habituar com a língua de verdade, só a ouvindo no dia-a-dia.
Estou terminando então o básico do alemão e estou com o pé no intermediário. A família do Thomas ficou muito surpresa nesta minha última visita uma vez que falei bastante com eles. Bem, para quem não falava uma palavra na primeira visita e tudo era traduzido pelo Thomas, acho que uma sentença já faz diferença.J Mas aos poucos vai se progredindo...
E agora?
Nosso maior desafio agora é encontrar uma maneira de ficarmos juntos. O Thomas tem mais dois anos de faculdade e como estou encerrando a minha este ano, procuro a melhor forma de aliar minha carreira profissional com à minha vida emocional. Então para o pessoal que pensava que estava na Alemanha, não estou não! J Estou certa de que a única alternativa para nós nesse momento seria eu ir para a Alemanha. Mas sem dúvida não irei sem ter algo minuciosamente definido antes. Não acredito que casamento seja a solução só para poder ter os papéis para ficar no país. O casamento é uma etapa muito especial e importante na vida e não desejo tê-lo orquestrado por conveniência. Claro que não seria conveniência pois nos amamos, mas agora não é o momento certo uma vez que ainda não estamos devidamente estabelecidos em nossas vidas. A melhor coisa seria eu arrumar um emprego, mas como nem sempre temos o que queremos e precisamos nos adaptar a cada nova situação, vamos ver o que acontece.